BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS »

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Rio-Niterói

As pessoas esperavam amontoadas na estação, envoltas no cheiro de gordura e suor que lhes pesava sobre os ombros. Cabeças baixas, olhares perdidos no sapato, em rostos desconhecidos, no horizonte impossível de enxergar com tantos corpos na frente, com tantos prédios no centro da cidade. Alma presa ao corpo e o corpo exaurido em forças.
Os portões se abriram e as pessoas se movimentaram num bloco só. No próximo instante eu já estava dentro da barca. Era daquelas antigas, que só são usadas em último caso, quando a demanda da hora do rush é tão grande que as barcas novas e modernas não são suficientes. Era daquelas enferrujadas e com banquinhos no segundo andar, do lado de fora.
Dentro dessas barcas tudo é melhor divisível. O pobre tem cara de pobre, mira os sapatos ou cochila, sentado numa cadeira do lado de dentro da barca. O rico lê algum livro da faculdade ou ouve Ipod - ou não anda de barca e sim de carro.
Depois de um dia inteiro num escritório claustrofóbico, dei-me permissão para fingir que sou livre como um pássaro, me encostei na grade cheia de sinais do tempo e deixei o vento bater no rosto. Enquanto o vento bagunçava meu cabelo eu não tinha problemas, não tinha horário, não tinha fome, não estava cansada, tinha apenas a necessidade de saber que, de um lado ou de outro da Baía, alguém, em algum lugar, em algum momento, estava me esperando.
Eu sabia bem do pobre e do rico. Sabia do perdido e do persistente. Sabia dos felizes e dos frustrados. Eu sabia que estava sozinha ali, com a ilusão de ter momentos felizes e quase torcendo para que estivesse sendo filmada secretamente para a cena de uma nhé-nhé-nhé Hollywoodiano com final feliz.
Eu divisava perfeitamente a dor dos outros e não tinha sequer noção da austeridade da minha, embora sentisse seu peso.
Clarice Lispector é que tinha razão quando disse que “todo adulto é solitário”. E, para mim, já não era sem tempo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Cedo, eu acordo. O Sol ainda nem nascido está, mas eu já nasci para um novo dia. E nasço mesmo, pois para fazer o que faço sem desanimar todos os dias, é preciso nascer novamente para conseguir ser feliz e, ainda, ser uma boa filha, uma boa irmã, uma boa amiga, uma boa amante. Isso quando o frio da manhã não congela meus neurônios, ou o sono não mata completamente minha capacidade de passar o dia inteiro pensando merda (ou mesmo alguma coisa que valha).
Mas é até agradável, levando em consideração que, embora eu demore por volta de uma hora e quarenta minutos pra vir pra faculdade e voltar para casa depois do trabalho - o que só acontece, respectivamente, às 6:20 e 18:45 - as pessoas que me rodeiam não são daquelas que você pergunta sobre o aquecimento global e elas te falam pra assistir o especial do Fantástico. Embora, de certa forma, o aquecimento - bem como várias outras situações, informações, leis e fatos importantes sobre os quais precisamos saber - seja Global. E isso, certamente, é uma enorme frustração pra qualquer jornalista em formação. Provavelmente tudo isso seria apenas um discurso babaca se eu tivesse feito a prova de estágios da Globo e passasse. Ainda bem que eu não tive tempo de fazer, eu gosto dos meus princípios.
Mas de qualquer maneira, hoje eu estou meio congelada. Na realidade, eu provavelmente estou congelada há bastante tempo, em vários aspectos, tantos que nem vale a pena ficar destrinchando. Não é interessante ficar dividindo suas dores quentes com os outros, as frias seria crueldade demais.
Procura-se, desesperadamente, um aquecimento que me englobe.