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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quando se sonha é assim, as coisas são meio picadas, meio difusas, meio que não são.
Essa noite eu não sonhei, nem a outra, nem a outra, nem a outra. Fico com medo de ter perdido a habilidade de viver do outro lado, que talvez seja outra vida, que talvez seja a morte, que talvez seja um borrão.
Eu não sei sonhar. Não vou pra Turquia, nem conheço o homem ideal. O problema é a idealização fulgás e exacerbada que já sou. Pra quê sonhos, então, se para você tudo é sonhar e se para humanos sonhar é bom?
Eu não sei sonhar.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Saudade (aos meus amados amigos, por quem mato e morro, com ou sem saudade)

Todo mundo vive falando disso, mas, embora pareça um egocentrismo crônico, imagino que ninguém a conheça de fato - pelo menos não as várias facetas dessa escrota que eu conheço.
Quando ainda era criança, já tinha crises existenciais dignas de uma adolescente de 15 anos; sentia falta de alguma coisa, mas não sabia o que, só entendia que tinha um vazio, que parecia ter a largura e o tamnho de todo o meu corpo, dentro de mim que nenhum chocolate era capaz de preencher (e, se preenchesse, preencheria também meu corpo de tecido adiposo); eu tinha saudade do que eu nunca tinha visto, nunca tinha conhecido.
Depois de já ter menstruado (é engraçado lembrar disso agora, pois eu me lembro perfeitamente de como foi a minha primeira menstruação e eu juro que lembro, também, que ela não foi precedida de TPM. Por que será que as coisas mudam?), mais velha, meu pai anuncia que vamos nos mudar. Não de escola, não de rua e nem de bairro, mas de cidade. E não vamos mudar pra uma cidade nos arredores, mas vamos pra longe, 18 horas de viagem de ônibus, duas de avião, se rolar aquela promoção "pague R$ 1,00 na volta pra casa" da GOL. Aquele vazio, que em mim já era latente havia alguns anos, se alargou, formando um tipo de barriga d'água interna que doía que nem fome.
Fomos. Passei um enorme tempo sentindo falta de tudo, dos cheiros, das pessoas, dos costumes. Era horrível, uma saudade que não desejo nem à criança de 12 anos mais pentelha do mundo. E olha que com 12 anos eu já nem era tão pentelha assim.
Mas, devo dizer, me adapto bem à saudade, ou ela que já achou um lugarzinho gostoso para se aconchegar dentro de mim. Só sei dizer que, se, no mundo, umas 15 pessoas sabem o que é ser feliz de fato, uma delas, certamente, sou eu. Foram os 7 anos mais felizes da minha vida.
Sem praia, sem o 's' chiado, sem as pessoas simpáticas que te emprestam gloss no banheiro ou seguram a porta da cabine para você. E, no entanto, mesmo com toda essa falta de hospitalidade e carisma, foi lá, na capital do Brasil, que fiz meus melhores amigos.
E, não sei se por todo esse vício de sentir saudade ou pelo espírito livre que quer, apenas, conhecer, ciganamente, outros espíritos livres, me apaixonei.
Quem dera fosse uma paixão dessas fáceis de lidar, daquelas que a gente começa a namorar no colégio, fica junto na faculdade, e acaba casando depois da formatura. Mas (felizmente, diga-se de passagem) eu não sou desse tipo que tem casos de amor corriqueiros ou mesmo histórias fáceis de se contar.
Ele morava no Rio e eu em Brasília.
Foram 8 meses de rios de lágrimas e todas as palavras possíveis destiladas em gritos, sussurros, páginas, guardanapos, ou o que me coubesse melhor no momento, para tentar explicar a saudade que sentia. E então, entre o paganismo da paixão e a ortodoxia do amor de mãe, eu fui óbvia, como toda adolescente.
Troquei a saudade pagã pela ortodoxa, mas, mesmo tendo habilidade sentimental suficiente para dizer que amor ama mais, não sei dizer, sinceramente, que saudade me doía mais; sem paixão, parecia viver - desde sempre - com um buraco e sem família, me sentia tendo que correr sem pernas. Desde os 12 anos eu era uma aleijada emocional e sabia, de trás pra frente, em Braile, em Morse, dar aula de saudade. Mas nunca soube como resolver para ela me doer menos, para ela deixar de me agulhar nos momentos mais inoportunos. Às vezes me vinha um ataque fulminante no meio de uma festa lotada e eu me sentia dentro de uma caixa de sapatos, apertada e totalmente sozinha, sem lado para olhar, sem nem janela para transbordar.
Como não poderia deixar de ser, para todo jovem há, pelo menos, um tapa na cara - aquele para ele realizar o sonho de protagonizar uma daquelas músicas que te dá vontade de cortar os pulsos se você prestar atenção à letra (mesmo que você tenha 90 anos) - então eu bati com minha linda e imaculada (até então) carinha na parede.
Ainda sinto saudades; não da paixão, que foi embora, me deixou dor, mas não mais aquele vazio dolorento, apenas dor, muita dor, que vai passando, à medida que eu vou parando de sentir pena de mim; não dos meus pais, que nesse momento dormem abraçadinhos, deitados num colconete, no meu quarto, de onde escrevo. Sinto saudade de todos os sorrisos que dei em todos os momentos bons que vivi quando não lembrava que tinha saudade.
Depois, por mais que ela nunca se cure completamente (e, em alguns casos, não cura mesmo), acostuma. Que nem um corte que cicatrizou mais deixou marca, que nem uma música que te faz lembrar alguém sempre que toca, que nem um cheiro gostoso que algum dia você sentiu. E foi feliz naquela fração de milésimo de segundo.